Nos fins de semana, qdo saio pela porta da frente, toda produzida e perfumada, balançando a bolsinha e a chave do carro, meu pai diz -” Já vai, criatura da noite?”.
E minha mãe reforça “- Mais uma noitada hem vampira? Volte antes que amanheça e deixa o celular ligado.”
No outro dia, pleno sábado, domingo ou feriado, antes que eu me levantasse da tumba, pois era mais corpo que espírito, eles punham um som estilo brega elétrico no último volume e ficam batendo da porta do quarto de tempos em tempos falando “- acoooorda criatura da noite, não vai comer nada não??? Ou vai mais uma cervejinha aí?!” Fazem isso como uma forma de tortura.
Écaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Era tudo que eu precisava ouvir pra mergulhar no vaso sanitário e descer junto com a bílis.
Não é justo ter que passar por isso todas as vezes... Com tantas responsabilidades que tenho durante a semana pra ser uma boa moça eu tenho direito de sair e me divertir... Não tenho mais idade pra tá ouvindo isso.
E sem querer provocar discussões a respeito do meu direito de ir e vir, ou qualquer outro desgaste desnecessário pensei: "-O que fazer?... já sei! Espero todos dormirem e caio no mundo”.
Mas como fazer isso? “-SAINDO PELA JANELA, CLARO!!!”
Então meu superego acusa: “-Vc não eu não tenho mais idade pra isso”
Mas como ele não serve pra nada mesmo, pensei novamente:
“- QUER SABER? Tenho simmmmmmmmmmm!!!”
Desde então, assim como fazem as baratas, os ratos, os morcegos, as corujas, os boêmios, os vira latas e os gatos de rua, enfim, eu saio da toca nas madrugadas sem que ninguém veja. Afinal, eu sou mesmo uma criatura da noite.
Daí, quase igual a um detento e sem o recurso “Maria Tereza”, desenvolvi desde então a habilidade de pular janelas, subi telhados e escalar muros feito um gato de rua, só que de salto alto.
A recompensa pelas fugas resulta em boas risadas, farras animadíssimas, altas baladas e romances quentíssimos, ou seja: Noites maravilhosas.
Lembro como um flash back a minha última fuga.
Era véspera de feriado, a previsão do tempo prometia tempestade, mas até então à chuva caía fina naquela noite.
Ainda assim a estratégia de fuga já estava montada e as emoções que me propunham me deixava cada vez mais excitada com todo aquele clima de descobertas e aventura.
Depois que a casa dormiu fiquei a espreita até a hora de subi no telhado e ficar esperando o bat sinal até que de repente ele acontece.
Meu corpo gelado por conta do sereno é logo acolhido no carro quentinho e no colo macio do vampiro da vez.
A coisa toda começou por aí. Nossos corpos ardiam de tesão e calor por saber que tudo estava daquela maneira tão intensa, tão plena, num momento tão inesquecível e doido que só fazia com que tudo ficasse mais gostoso.
Minutos depois já estávamos confortavelmente abrigados num dos lugares mais alto da cidade.
Da janela do quarto tínhamos como cenário o céu sendo cortado pelos raios e do outro lado da orla, as duas cidades sendo banhadas pela chuva forte.
A música de fundo era uma mistura de trovões, beijos e barulhos molhados.
O mundo se acabava lá fora. A cidade era devorada pela fúria da natureza... E eu também. A natureza age a favor da vida.
Tudo se resumia em nossos corpos encaixados, sentindo o calor, a pulsação um do outro num prazer que parecia infinito, repleto de desejo e sentimento ao mesmo tempo.
As horas ininterruptas de amor não pareciam suficientes e não parávamos de nos tocar e beijar continuando as carícias com os corpos colados, exaustas depois de todas as emoções sentidas.
A chuva foi parando parando parando de acordo com as nossas forças.
O que sobrou foi uma calmaria que embalava os meus sentimentos mais íntimos, tornando o momento mágico e meu sono enternecido com uma paz inesquecível e merecida.
Até perceber que o dia inevitavelmente já está amanhecendo e para que não se quebrasse o encanto daquilo tudo, era hora de voltar pra casa antes de clarear.
Feito os vampiros...
Entrei em casa da mesma maneira que sair enquanto tudo ainda dormia. E certa que compartilho agora esse segredo somente com meus amigos blogueiros, o vampiro da vez e o vigia da rua.
Sobre o vigia: trata-se de um sacana que sempre apita alto fazendo subi a minha adrenalina qdo ele vê que já alcancei a janela do meu quarto.
Ele deve pensar horrores de mim! Mas quem liga? Ele é pago pra vigiar a rua e guardar os mistérios da noite.
Mais tarde, acordo junto com os outros. No meu rosto ainda tem um ar suspeito e um tom de rosa. E estampado um sorriso bobo feito um letreiro luminoso que avisa o tempo todo para quem consegue perceber –“Uauuuu que noite!!!” E ninguém nem faz idéia do quanto foi bom.
Dessa forma, sem contrariar as normas da casa, vou levando a vida assim como fazem as baratas, os ratos, os morcegos, as corujas, os boêmios, os vira latas e os gatos de rua que saem das tocas para se divertirem, e me trasformo de fato em mais uma criatura da noite.
Se é comigo, não poderia ser diferente.
Caso queira comentar, envie através do e-mail (lu.serie.ouro@hotmail.com) dizendo assim:
"-sobre post "tal". Obrigada!
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