A PROFECIA FEZ-SE ALI.

Pela manhã ele me confessou... ”- Hoje acordei com vontade de fazer duas coisas...Uma delas é fazer amor com você. Horas depois, no nosso canto a beira de um riacho e sobre as estrelas, estávamos dispostos a nos descobrir mais uma vez. Nas caricias intermináveis, ele me perguntou: “-O que eu tenho para te atrair tanto assim”? Respondi então contando um fato interessante que havia me acontecido há 227 anos atrás. Eu tinha por volta de quatro ou cinco anos não sei ao certo. Cabelos finos e cacheados, olhos chorosos, rosto branco, bochechas coradas transparecendo todas as minhas sensações, lábios molhados de quem vivia chupando ou lambendo coisas açucaradas, vestida certamente um os típicos vestidinhos de algodão costurados por minha avó e enfeitados com arremates e laçarotes feitos por minhas tias papariquentas que para compor o figurino de princesa, me punha sempre umas calcinhas bunda-rica que me deixava parecendo uma patinha. Daí vem o famigerado apelido Lulu Patinha dado por meus tios babões. Embora sendo o tempo todo tratada feito um OVO, eu gostava mesmo era de brincadeiras de meninos. De correr no meio da rua, de nadar pelada e de colocar fogo nos quintais dos visinhos. Fiz isso aqui uma vez em Juazeiro na Rua 21 numa dessas visitas de fim de ano a um amigo dos meus pais. Foi um momento lindo. Mas ainda no Oeste - Quando ainda era essa menina, meu avô me ensinou uma coisa que ele nunca vai vir a saber, mas que a partir daquele momento ouvindo-o falar com um tratador de animais, aquela informação passou a ser determinante em minha vida. Meu avô me colocava sentada nos ombros e saia caminhando comigo pelos pastos. Nisso um dos tratadores falou: -“Sr. João, aquele cavalo bom que o senhor comprou para cobrir as éguas, não tá dando conta do recado não! Ele só chega, refuga e vai embora, o que fazer?”. Meu avô, muito calmo, olhando para o pasto enquanto terminava um cigarro feito à mão, acendeu, deu uma baforada e minutos depois respondeu seguro de si: “-Deixe o animal preso ao lado das fêmeas, mas não juntos... não dê a ele nem o que comer e o que beber por uns três dias e depois solte-o no meio delas”. Eu ali pendurada no pescoço do meu avô, achei tudo uma crueldade, mas não questionei, afinal era só uma criança que observava curiosa a tudo e a todos. Dias depois o cavalo que antes era vistoso e altivo, era agora uma imagem desoladora de uma carcaça segurada num fio de vida, mas que tinha nos olhos um brilho curioso, cheio de fúria e de desejos. Ele que antes ignorava as fêmeas, estava a todo o momento por conta do cheiro delas, tentando arrebentar a baia. Então meu avô deu voz de comando: – “solte-o” O cavalo então arrancou forças não sei de onde, pois até então havia passado fome e sede, não querendo saber de nada pulou no meio das éguas e cobriu a toooooodas que lhes era servido. Só as melhores e mais fortes, dizia o meu avô. –“Pois só as melhores resistem à fúria desse animal”. Depois sim, de terminado o cruzamento meu avô permitiu que lhe desse o melhor tratamento e todo conforto digno de um guerreiro. Eu ali, ávida, assistindo a tudo, havia testemunhado a força da natureza a favor da vida. Um verdadeiro Rito de Passagem me transformando numa profetisa. Não é a fome nem a sede que amedronta o bicho e o homem, é o desespero de morrer sem deixar herdeiros de sua força e de sua raça para que dessa maneira a sua passagem pela terra não tenha sido em vão. E para isso só resta uma alternativa – acasalar. Desde então quando vejo um homem reclamando da vida, me vem o pensamento: “_tire todo o conforto, deixe passar fome, sede e frio e veja o que acontece”. Alguns morrerão com certeza, pois é a lei natural das espécies, mas outros resistirão e se transfomarão em potencias. Então pela sua trajetória e percebendo que havia recebido esse mesmo tratamento imposto pela vida, Ele me pegou forte e me ofereceu mais uma vez um galope seguro.
Nesse momento, todas as minhas pulseiras de cristais swarovisk não resistindo a fúria dele espalhou-se aos seus pés como sendo um presente dos deuses a seu mais novo guerreiro. É o milagre da vida