Sendo uma pessoa organizada, tinha tudo planejado. Formada desde o ano 2005, vinha então galgado a carreira publicitária e, estando em plena idade produtiva, filhos não fazia parte disso.
Desde a adolescência, fui alertada que possuía ovário policístico e, isso dificultaria na fase adulta
Nunca comecei o tal tratamento, pois havia outras prioridades e ser mãe não era o meu objetivo de vida. Um dia quem sabe, tendo uma relação estável e, o meu suposto marido quisesse ter filhos, nós adotaríamos. Amar um filho é um sentimento natural, mas, amar uma criança que não seja seu filho biológico e dar a ela todo o carinho e todas as condições para que seja um cidadão de honra, isso sim seria uma prova viva de amor ao próximo.
No entanto, nem tudo que a gente pensa é o que de fato acontece.
Dias atrás, comecei a sentir meu corpo esquisito, arredondado e muito lento. Meu ciclo menstrual estava tão atrasado que já havia perdido as contas de quanto tempo estava, mas sentia cólica e até um sangramento que não era o riacho de costume, mas ainda assim era fluxo. Até aí tudo normal e, eu só pensava, “-Ela está vindo”.
Veio sim, uma aversão às duas coisas que mais gostava no mundo: Vinho e cerveja! Ôpaaaaaaaaaaa...Tá bom não! Recorri ao teste de farmácia...
A tormenta começou às 5h da manhã, o melhor horário de colher o xixi.
Lá dizia: um tracinho = negativo. Dois tracinhos = positivo.
Ia dar negativo com certeza! afinal, não era justo eu que iria cair numa armadilha dessas. Nunca fui uma irresponsável!!! Deu dois tracinhos...
Fudeu.... socorroooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo.
Naturalmente sendo solteira e com a cabeça cheia de planos, projetos futuros, pouco dinheiro e muitas responsabilidades, meu único pensamento era NÃO QUERO NÃO QUERO NÃO QUERO NÃO QUERO NÃO QUERO NÃO QUERO NÃO QUERO.
Pela primeira vez pude ter certeza que estava vivendo o meu pior momento. Só suicídio era a melhor solução.
Ok... Vamos pensar...Tenho certeza que até o fim do dia de uma forma ou de outra eu iria encontrar uma maneira para terminar essa agonia. Até por que o corpo é meu, o problema é meu e quem vai resolver sou eu. Tá resolvido.
Porém, uma situação como essa, vc sempre procura uma cúmplice para juntas resolverem o tal “problema”. E eu escolhi minha irmã, certa que a minha maneira ela fosse me ajudar. Buscava praticidade e acabei encontrando uma mulher sentimentalóide preocupada com a minha saúde e principalmente com os traumas que isso iria me causar dali
Era para ser nosso primeiro segredo e, de novo, fui surpreendida quando dei de cara com ela, a minha mãe, a minha sobrinha adolescente, o meu sobrinho de quatro anos que entraram em comitiva no meu quarto me abraçando emocionados e, acredite FELIZES com a novidade!!!Parecia que eu estava esperando o novo Cristo. Senti-me no século passado. Fazer o que então? Eu seria a pior das criaturas se tirasse essa nova vida de minha casa. E chorei arrependida por está sendo tão fraca.
Nisso, já quase meio dia, e o tal sanguinho que queria tanto ver manchado na calcinha seria considerado um pânico geral agora. Já estava apaixonada pela idéia de ter uma criança!!! Comecei a pensar em como seria os meus traços nela, a minha personalidade, os dedinhos gordinhos, as bochechas branquinhas, o cheiro gostoso e o sorriso desdentado, noooooossa!!! Já imaginou ter um bom motivo para passear por aí empurrando um carrinho? Indo a festas de criança, enfim! O que mais eu poderia querer da vida de tão bom? Adooooooro!
A vida finalmente começava a fazer sentido para mim.
Eu poderia então fazer uma criança feliz. Lembro que eu e meus irmãos éramos proibidos disso. Explico: Criança feliz é criança que corre, brinca, grita, pula, escorrega dar risada, canta se suja e faz barulho. Por imposição da minha mãe, barulhos eram proibidos lá em casa para que não incomodasse o sossego do meu pai, “Um Ser Supremo” na cabeça dela. Sempre critiquei esse modelo de família.
Como poderia uma mãe, ter para si o seu marido como o personagem principal e fazer de seus filhos simples coadjuvantes? Tê-los só para que esses representassem um bom número na platéia do teatro do papai? Até hoje, me recuso a participar desse circo.
Comigo será diferente. Ao meu filho, meus melhores sentimentos. E juntos eu e ele, seremos a melhor companhia um do outro.
Até por que, por conta desse trauminha, tive uma infância complicada e acabei por me transformar numa criança introspectiva. Na adolescência era considerada distante e “esquisita”. Sentia-me o ser mais desprotegido do mundo. Tanto que virei esotérica e tinha os astros como meus protetores. O Sol e a Lua era minha fonte de inspiração, as estrelas como sendo as minhas melhores companhias e, por eles passei a me orientar. Era como se através dos astros, Deus me enviasse os sinais para conduzir a minha vida. De toda forma eles sempre me favoreceram. Tanto é que, por conspiração do universo, penso que Michel foi usado como instrumento para que eu fosse fecundada justo na noite mais linda de 2011. Noite de Lua cheia!
Meu filho foi um presente. Uma nova chance de com ele (a) eu pudesse correr, brincar, gritar, pular, escorregar, dar risadas, cantar e fazer muito baruuuuuuuuuuuuulho. Quero vê alegria na carinha dele (a). Não mais aqueles bichinhos acuados se sentindo culpados de terem nascidos como éramos meus irmãos e eu.
Desde então, os meus planos serão só nos termos práticos (ter uma boa qualidade de vida para manter uma saúde favorável á minha gestação; continuar produzindo até quando puder trabalhar e, me manter longe das energias negativas e dos pensamentos que fazem sofrer)
Quanto ao “Ideal de vida futura” isso vou deixar para que Deus, á sua maneira, escreva a nossa história de aqui por diante. Afinal, "A vontade de Deus só acontece quando a Graça e a Proteção de Deus possam nos alcançar".
Que assim seja.